
Seis mulheres especiais
Para comemorar a semana da mulher, poderíamos escolher inúmeras personalidades maravilhosas!
Mas algo extraordinário surgiu nas minhas mãos, vindo das mãos de uma mulher especial, dona Shirley.
Para quem não conhece a Dona Shirley, ela é mãe de uma das idealizadoras da COMUD.
Eu e ela vivemos trocando vídeos que encontramos na internet, principalmente de boa música, novidades, vozes fora do comum, histórias de vida empolgantes.
Essa semana, ela me mandou algo muito bom, seis vídeos muito bem-feitos que chegaram por WhatsApp.
Apesar do Dia Internacional da Mulher ser dia 08 de março, acho que mulheres merecem homenagens sempre.
Esses vídeos, porém, chegaram sem autoria! E como eram muito bons e mereciam ser divulgados e reconhecidos, resolvemos então divulgar na nossa rede social.
Mas eu resolvi ir além, ler um pouco mais sobre elas, queria saber mais informações dessas 6 mulheres que foram exaltadas.
Queria saber por que elas foram escolhidas.
Não precisei pesquisar muito, você pode pesquisar também e ir além, pode ler algumas de suas obras. Contudo, uma coisa me chamou muito a atenção nelas todas: a garra, a ousadia, a coragem, os objetivos claros.
Mais do que qualquer legenda que se poderia criar para elas, eu diria que podem inspirar por suas qualidades.
Vou escolher alguns adjetivos que as definem, mas acho que você poderia descobrir muitas outras qualidades para todas elas!
Você poderá concordar ou discordar de mim na escolha dos adjetivos. Só não se esqueça que são a minha visão e ela está ligada à minha referência de mulheres admiráveis e meus Valores.
As mulheres da minha vida são guerreiras, encantadoras, objetivas, inteligentes, fortes e muito femininas! Inclusive minhas parceiras nessa jornada!
Um bom debate e uma conversa com as mulheres que estão na minha vida são sempre bem-vindos, pois agregam muito ao meu crescimento como ser humano!
Maria Sibylla Merian
Objetiva, Inteligente, Observadora, Destemida…
Imaginem uma mulher que viveu de 1647 a 1717 e documentou a metamorfose das borboletas!
Uma alemã que foi ilustradora científica, naturalista e entomóloga!
Ela se dedicou a estudar plantas e insetos, aprendeu muito com o padrasto.
Publicou livros, viajou o mundo buscando conhecimento, influenciou diversos outros naturalistas e é uma das mais importantes estudiosas da entomologia. Vejam uma frase dessa mulher esplendida:
“Na minha juventude, passei meu tempo a investigar insetos. No início, comecei com bicho da seda na minha cidade natal, Frankfurt. Percebi que lagartas produziam lindas borboletas ou mariposas, os bichos da seda faziam a mesma coisa. Isso levou-me a recolher todas as lagartas que eu pudesse encontrar, para ver como elas mudavam.”
Colecionou insetos, sapos e os desenhou, dissecou e documentou.
Viajou ao Suriname onde pode desenhar animais e plantas, registrando nomes locais nativos de plantas e descrevendo seus usos medicinais.
Muitos acham que ela foi a primeira ecologista!
Frida Kahlo
Irreverente, Anticonvencional, Artista, Colorida, Livre …
Pintora mexicana do surrealismo, criou muitos retratos, autos-retratos e obras inspiradas na natureza e em objetos de sua terra. Usou um estilo inspirado na arte popular local para questionar a identidade de gênero, classe e também de raça!
Mulher à frente de sua época, inspirou filmes, personagens e esteve no imaginário popular pela luta dos direitos de liberdade feminina!
Infelizmente, seus trabalhos só foram redescobertos após 1970 por historiadores e ativistas. Nos anos 90, tornou-se um ícone e base dos movimentos LGBTQ, feministas e classistas. Reforça tradições indígenas mexicanas, o valor da mulher na sociedade.
Frida foi criada num mundo de mulheres, apesar de uma mãe católica devota de origem indígena e espanhola. Possui um vínculo muito próximo ao pai.
Sua vida foi marcada por doenças, primeiro a poliomielite, depois lesões e operações diversas. Por causa dos problemas físicos, passou a usar calças e saias longas, o que se tornou uma de suas marcas pessoais!
Aprendeu desenho e modelagem, mas não começou cedo e nem pensava na arte como vocação quando jovem. Gostava das cores.
Após um acidente de ônibus, ficou meses entre a vida e a morte, com diversas fraturas. A partir daí, passou a ter que usar um colete ortopédico. Durante o tratamento, dedicou-se à pintura.
Entrou no Partido Comunista Mexicano, onde conheceu e casou-se com o muralista Diego Rivera. A obra do marido a influenciou muito. Frida retratou com simplicidade os temas do folclore e da arte popular do México.
Viajou ao exterior e conheceu figuras importantes como Leon Trotski (com quem teve um romance), André Breton, entre outros. Apesar de todos a considerarem uma surrealista, ela não concordava, não achava que pintava sonhos e sim a realidade dela mesma.
Teve exposições importantes, suas obras eram fortes, destaque para o Auto-Retrato em um vestido de veludo e vários outros retratos.
Frida e Diego Rivera tiveram um casamento tumultuado e muitos casos extraconjugais. Kahlo era bissexual, o marido aceitava os relacionamentos de Kahlo com mulheres, mas não com homens.
A separação se deu após descobrir que seu marido mantinha relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina. Viveu vários amores com homens e mulheres.
Volta com o marido, mais uma experiência tempestuosa, com brigas violentas.
Mantinham casas idênticas ligadas por uma ponte, eram livres e se encontravam nas madrugadas. Nunca tiveram filhos, por sequelas do acidente.
Ela tentou diversas vezes o suicídio com facas e martelos. Morreu de pneumonia. Mas não se descarta overdose, pois tomava muito remédios. Última anotação no seu diário, permite a hipótese de suicídio.
“Espero que minha partida seja feliz e espero nunca mais regressar”…
Malala Yousafzai
Forte, Desafiadora, Obstinada, Destemida…
Paquistanesa, estudante, ativista, blogueira.
Malala recebeu vários prêmios, entre eles: Sakharov (2013), Internacional Catalunha (2013) e Nobel da Paz (2014), foi a pessoa mais nova a receber um prémio Nobel.
Conhecida pela defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação na sua terra natal, o Paquistão. Seu ativismo tornou-se um movimento internacional.
Sua família possui escolas na região do Paquistão. Malala escreveu para a BBC, com pseudônimo, detalhando o cotidiano na ocupação talibã, assim como a educação dos jovens no local. Em seguida, o New York Times publicou um documentário sobre o cotidiano de Malala.
Ela se tornou muito popular, dando muitas entrevistas e defendendo posições importantes.
Em 2012, ela foi atacada por um homem armado numa van escolar, ficou em estado grave alguns dias e foi levada para a Inglaterra.
Gerou uma emblemática discussão ente clérigos islâmicos paquistaneses e talibãs, que reiteraram a sua intenção de matar Malala. Houve movimento de apoio nacional e internacional.
Culminando numa petição da ONU com o slogan “I am Malala” (“Eu sou Malala”), exigindo que todas as crianças do mundo estivessem inscritas em escolas até ao fim de 2015.
Malala foi capa da revista Time e considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, discursando na sede da ONU.
Em 2016, foi laureada com o título de doutora honoris causa pela Universidade de Pádua, na Itália. Já em 2017, recebeu a cidadania canadense honorária e o título de doutora honoris causa pela Universidade de Ottawa.
Foi em 2020, graduou-se em filosofia, política e economia em Oxford.
Carolina Maria de Jesus
Guerreira, Obstinada, Inconformada, Criativa, Sonhadora…
Brasileira, memorialista da periferia brasileira.
Em 1960, Carolina teve seu diário publicado com o título “Quarto de Despejo”, quando atraiu a atenção de um jornalista, ao mostrar seu diário. Este livro se tornou um best-seller de fama internacional.
Ela vivia na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando três filhos como catadora de sucata.
Seu livro, além de sucesso editorial, deu base para peças de teatro, músicas e ilustrações. É referência e inspiração para outras mulheres e para a população das periferias. Seu nome está em escolas preparatórias comunitárias, salas de teatro, saraus, encontros de estudo e grupos comunitários.
Muito importante realçar que a Festa Literária das Periferias de 2020 foi uma homenagem à memória de Carolina de Jesus, 60 anos após a publicação inicial do livro.
Nasceu em Sacramento, Minas Gerais, de pais agricultores analfabetos, foi vítima de maus tratos. Sua mãe forçou a frequentar a escola, por apenas 2 anos, o suficiente para aprender a ler e escrever.
Como não era filha legítima, não podia frequentar a igreja, mas ela faz referências bíblicas em seu diário, logo ela se sentia católica.
Em 1937, foi morar em São Paulo, uma cidade que crescia aceleradamente. Seu diário conta com qualidade a expansão das primeiras favelas.
Ela conta no livro que as pessoas de sua cidade natal a consideravam bruxa por ter aprendido a ler com tamanha facilidade.
Já em São Paulo, mesmo coletando materiais recicláveis, sobreviveu e ergueu seu barraco. Ela guardava livros e escrevia seu diário com o material que encontrava. Provocava inveja dos vizinhos por saber escrever, a maioria eram analfabetos.
Tinha muito orgulho de sua raça. Para ela, sua pele e cabelo eram lindos.
Seu diário é rico em detalhes do dia a dia dos favelados assim como conta com total verdade os fatos políticos e sociais que afetam as comunidades.
Ela fala sobre fome, dificuldades, desespero, levando pessoas de caráter moral elevado deixarem seus princípios e valores para poder comer.
Dantas, o jornalista que a ajudou, estava cobrindo a inauguração de um parquinho, porém houve a invasão de uma gangue que queria a área do parquinho e perseguiu as crianças.
Diante da confusão, ele ouviu Carolina de Jesus gritar:
“Saia, ou eu vou colocá-lo no meu livro!”.
O jornalista, após a confusão, perguntou a ela o que ela queria dizer com “livro”. Ela timidamente o levou ao barraco e mostrou todos seus escritos. Ele pediu-lhe uma amostra e foi até o jornal.
A escolha do título está ligada à visão de Carolina de Jesus, ela achava que a favela era o ferro-velho da sociedade:
“Eu moro na sala de lixo. E o que quer que esteja lá dentro, as pessoas ou ateiam fogo, ou jogam no lixo.”
Um best-seller, uma surpresa, muitos dos vizinhos riam e ridicularizavam por escrever nas horas vagas.
Carolina possuía sonhos e acreditava na possibilidade de uma vida melhor. Ela não era conformada como os demais vizinhos.
Num ambiente tão difícil, ela escrevia poemas, romances e histórias. E não pensem que foi sua primeira tentativa de publicar, ela já havia tentado várias vezes antes.
Ela escrevia sobre as pessoas da favela, mas não compartilhava de sua forma de viver e pensar. Enquanto muitos sucumbiam ao álcool, prostituição e degradação, ela se apegava aos filhos e aos seus sonhos.
Ela trouxe realidade para a visão acadêmica sobre pobreza e exclusão.
Ela inclusive buscou relacionamentos e filhos de estrangeiros, um italiano, um português e um americano. Era exigente com seus parceiros e não queria se casar. Poderia ter tido uma vida muito tranquila, mas acredita-se que preferia sua liberdade.
Carolina escreveu mais quatro livros: Casa de Alvenaria, Pedaços da Fome, Provérbios, Diário de Bitita. Além de poemas, contos e memórias breves, nenhuma das quais jamais foram publicadas.
Seu livro foi lido por capitalistas que queriam evitar os erros e por comunistas que queriam apontar os erros da sociedade baseado no Capital. Seus relatos foram usados e retratados em salas de aula por muito tempo, pois trazia realidade ao debate.
Em 2019, o motor de busca Google comemorou Carolina de Jesus com um Doodle no 105º aniversário de seu nascimento.
Wangarə Maathai
Intensa, Inteligente, Focada, Intuitiva, Batalhadora…
Ativista social, ambientalista e política queniana.
Primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2004, obtido por sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, democracia e paz!
Soube aproveitar as oportunidades para estudar sempre, focada nos estudos da recuperação da natureza, zoologia, biologia, ciência. Chegando ao Doutorado na Alemanha.
Ativista intensa, lutou contra a discriminação de gênero, pela proteção ambiental e pela democracia. Lutou fortemente contra um governo opressor e se tornou um exemplo dentro e fora de seu país.
Criou o Movimento Cinturão Verde em 1977, organização não governamental ambiental focada no plantio de árvores, conservação ambiental e direitos das mulheres.
Em meados dos anos 80, conseguiu tornar um debate ecológico em uma ação real de reflorestamento.
Foi membro do Parlamento e ministra assistente do meio ambiente e dos recursos naturais, assim como foi conselheira honorária do Conselho Mundial do Futuro.
Em entrevista à Time em 2004, sobre a teoria da criação da AIDS, assim se pronunciou:
“Não faço ideia de quem criou a AIDS e se é um agente biológico ou não.
Mas sei que coisas assim não vêm da lua.
Sempre achei importante dizer a verdade às pessoas, mas acho que há alguma verdade que não deve ser muito exposta”
Quando perguntada o que ela quis dizer, ela continuou:
“Estou me referindo à AIDS. Tenho certeza que as pessoas sabem de onde veio. E eu tenho certeza que não veio dos macacos”.
Em resposta, ela emitiu a seguinte declaração:
“Alertei as pessoas contra falsas crenças e desinformação, como atribuir esta doença a uma maldição de Deus ou acreditar que dormir com uma virgem cura a infecção.
Essas crenças predominantes na minha região levaram a um aumento no estupro e violência contra crianças.
É dentro desse contexto, também complicado pela perspectiva cultural e religiosa, que eu falo frequentemente.
Por conseguinte, fiquei chocada com o debate em curso gerado pelo que supostamente disse. É, portanto, fundamental para mim afirmar que não digo nem acredito que o vírus foi desenvolvido por pessoas brancas ou poderes brancos para destruir o povo africano. Tais visões são perversas e destrutivas”.
Após uma viagem ao Japão em 2005, tornou-se entusiasta da filosofia de redução de desperdícios de mottainai, um termo japonês de origem budista.
Foi a primeira presidente do Conselho Econômico, Social e Cultural da União Africana e foi nomeada embaixadora da boa vontade para uma iniciativa destinada a proteger o Ecossistema Florestal da Bacia do Congo.
Foi uma das bandeiras na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006. Ano intenso, com lideranças e apoio a campanhas sobre a defesa da natureza. Inclusive plantando uma árvore com o então senador Barack Obama, onde o senador declarou:
“A liberdade de imprensa é como cuidar de um jardim; ele continuamente tem que ser nutrido e cultivado. A cidadania tem que valorizá-lo porque é uma daquelas coisas que podem escapar se não formos vigilantes.”
Em 2009, ela foi nomeada como uma das primeiras heroínas da paz.
Seu nome ainda é um símbolo da luta pela natureza pelo mundo.
O documentário “Innsaei: O Poder da Intuição” de 2016 é dedicado à sua memória.
Faleceu em 2011.
Maria Anna Mozart
Brilhante, Resignada, Resiliente…
“Nannerl”, musicista e professora de música austríaca.
Maria Anna (Marianne) Mozart nasceu em Salzburgo, irmã mais velha de Wolfgang Amadeus Mozart. Quando criança, se apresentava junto ao irmão, em turnês em cidades como Viena e Paris.
Diante das regras vigentes, teve que deixar sua aptidão para música, por entrar na “idade matrimonial” das mulheres na época.
Porém, há evidências de que Marianne escreveu composições musicais, pois há cartas de Mozart elogiando suas composições, que se perderam no tempo. Casou-se e teve filhos, como era o padrão.
“Nannerl”, seu apelido, era o ídolo do grande compositor. Aos 3 anos, ele se encantava com a música da irmã. As duas crianças tinham sua própria linguagem secreta. As correspondências entre os irmãos eram intensas e muito íntimas.
Mozart escreveu obras para sua irmã interpretar e costumava enviar cópias de seus concertos para piano, durante um período.
Quando adultos, pouca informação sobre a relação entre os irmãos pode ser validada.
Wolfgang morreu cedo e foi Marianne quem encontrou sua biografia, mas ela pouco conhecia dessa fase ali descrita.
A biografia reacendeu a admiração da irmã e de seus sentimentos fraternais.
Após a morte do marido, Marianne voltou a dar aulas de música. Na velhice, conheceu a esposa de Mozart e o filho do irmão.