@maloca_de_livros
Para quem não sabe ainda, eu adoro contar histórias, fico ouvindo daqui e dali histórias reais que me emocionem.
Às vezes a história é para rir, às vezes chorar e às vezes são histórias que me fazem pensar na vida.
A história que vou contar, além de me emocionar, me fez acreditar que o mundo ainda tem jeito, me encheu o coração de esperanças.
Se eu gosto de contar histórias e escrever sobre elas, saber que alguém quer levar a leitura a todos é muito emocionante.
Começa assim:
Uma mulher olha atentamente para uma estante enorme, cheia de livros, pilhas e mais pilhas de histórias incríveis, cultura e lazer.
Uma vida inteira lendo, uma paixão de verdade!
Mas, uma paixão que muita gente não pode ter, pois aqueles livros estavam ali naquela estante aprisionados.
Todas aquelas histórias de amor, aqueles fantasmas, as poesias, os contos e até os debates filosóficos estavam ali aprisionados.
Eram só dela…
Ela pensou mais ainda, e lembrou que, além daqueles, existiam dezenas de livros espalhados pela casa, até no banheiro tinha estante com livros.
Não pensem que ela era acumuladora, era na realidade uma leitora voraz, uma pessoa que viajava pelas palavras.
Eu faço isso quando leio um livro, solto meus pensamentos e os heróis e os bandidos tomam a forma que eu quiser, na realidade eu viajo pelo mundo, naquelas páginas.
Ela também, e muitas vezes temos vontade de reler, então a gente guarda os livros como a um tesouro.
Mas minha heroína resolveu mudar esse processo de ficar com tudo aquilo só para ela!
Ela já tinha ouvido falar sobre compartilhar livros, um movimento mais comum na Europa, mas que cada dia mais, ganha adeptos no Brasil.
Tenho certeza que você já ouviu falar de uma geladeira de livro numa praça, de um caminhão de livros que circula e de bibliotecas criadas por pessoas comuns.
Mas Jurema queria algo simples, sem burocracia, sem custos, sem medos…
Foi nesse processo que ela decidiu criar a “Maloca de livros”.
Cabe aqui um texto paralelo, vou falar sobre uma palavra muito interessante e que tem tudo a ver com a cultura brasileira: maloca.
Você sabe o que significa maloca?
De onde vem essa palavra?
Vem comigo que eu vou te contar tudo!
Maloca é um tipo de casa grande e coletiva que os povos indígenas da Amazônia usam para morar, se reunir, celebrar e preservar suas tradições.
Normalmente é feita de madeira e palha, sua estrutura é ampla e aberta, permite a convivência geral e muito contato com a natureza.
Você sabia que cada povo indígena tem sua versão de maloca, são únicas e suas estruturas podem identificar sua cultura e sua história.
Em tupi-guarani, uma das línguas indígenas mais faladas no Brasil podemos identificar os termos “mala” (casa) e “oca” (grande)
Logo, a maloca é um símbolo da resistência e da preservação da cultura indígena no Brasil, está muito presente na literatura e nas artes do Brasil, mestres como Mário de Andrade e Darcy Ribeiro usaram muito o termo para reverenciar a cultura ancestral.
Quando propagamos a cultura, a leitura, estamos preservando tradições e a história dos povos.
A Maloca de livros não seria um ambiente complexo, mas um espaço para guardar o tesouro das palavras escritas!
Jurema saiu procurando lugares que aceitasse ter livros disponíveis a todos, isso mesmo, não há nenhum controle, sem burocracias, ninguém precisa tomar conta!
Inicialmente isso causava espanto, as pessoas diziam:
– Mas como minha senhora, os livros vão ficar ali e qualquer um poderá pegar e até não devolver?
– Eu não quero me responsabilizar, não tenho tempo para isso!
– Muito arriscado, vão roubar tudo.
Parcerias
Mas Jurema insistiu e devagarinho encontrou parceiros, um mercado, uma escola pública e finalmente o sonho saia do papel e os livros ganharam o mundo!
Os personagens de Machado de Assis, as histórias de Conceição Evaristo, as poesias de Fernando Pessoa e as delicadas linhas de Cora Coralina iriam encantar outras pessoas!
Dentro disso tudo ainda aconteceu algo muito especial, uma maloca foi parar numa peixaria, ali no Mercado Municipal, onde chegam as verduras e os legumes frescos todo final de semana, onde circula muita gente! Minha heroína bravamente coloca um avental, no bolso do avental, um livro!
Caminhando entre as pessoas, oferece a uma menina, o Poliana, a um questionador, um livro conceitual e falando com paixão sobre os conteúdos, ela encantava novos leitores.
Mas, foi ali, que um dia ela resolveu parar e falar com um rapaz que sempre vinha, abria e folheava as páginas e nunca levava nada…
Ela se aproximou e disse:
– Leva para ler meu filho!
Ele de olhos baixos disse:
– Não sei ler, senhora, fico apenas olhando as figuras e imaginando o que estão dizendo as letrinhas!
Ela parou e se emocionou muito, pois ainda existem tantos que não podem ter acesso a base da educação, a leitura!
Com muita sabedoria, ela disse:
– Você leu, leu o que pôde através das imagens e criou sua própria história! Quem sabe um dia você possa voltar e ler o livro!
Diante de tudo isso é que resolvi contar essa história, pois a educação realmente pode mudar o mundo, faça a sua parte, crie sua própria “Maloca”, leve os livros ao público.
Jurema foi minha heroína de hoje, até a próxima!