
Viver transformando as sobras de qualquer coisa
Olá, é uma alegria imensa vir me apresentar a vocês.
Aceitei, honrada, o convite pra colaborar neste portal, porque acredito muito no poder generoso do compartilhamento, que é fruto da preocupação com o coletivo e do olhar além da individualidade, a fim de, resumidamente, se cocriar um mundo melhor para todos.
Recebi esse convite por uma particularidade que trago desde a infância:
Minha forma de interagir com o lixo.
Minha percepção despertou bem cedo para um movimento, um tanto intuitivo, de naturalmente tentar aproveitar todo tipo de coisas vida afora, desde embalagens vazias até roupas velhas, de papel de presente usado a uma infinidade de itens, que eu precisaria de um quilômetro de palavras enfileiradas pra tentar listar…
Digamos que “o céu é o limite” é um lugar-comum que cabe muito bem aqui!
Tenho lembrança nítida de quando “comecei a ser assim”: na segunda metade dos anos 80.
Esse olhar diferente surgiu, e seguiu se fortalecendo, conforme aconteciam as visitas mensais que o caminhão do ferro-velho fazia na minha rua…
O motorista ia parando a todo instante, pagando a peso e em dinheiro vivo (!) por todo metal, vidro, plástico e outros materiais que tivéssemos nos empenhado em juntar durante o mês.
Eu recolhia, limpava e guardava cada latinha que se descartava em casa.
Eu era a importante guardiã de um tesouro, e o “dia de negócios” significava ter dinheiro sem precisar pedir.
Quanto a mim, particularmente, desde a primeira venda ganhei de brinde uma pulga pesada atrás da orelha: se o cara pagava pelo nosso lixo, decerto deveria fazer algo com ele que valesse o investimento… Eureka!
E foi assim, acreditem, que eu nunca mais vi o lixo como lixo, desde os meus sete anos de idade.
Pra mim, desde então, o ponto em que chamamos algo de lixo passou a ser, como regra, apenas mais uma fase da vida útil das coisas…
Ver dessa forma depende de olhar ao redor com criatividade + desejo de poupar os recursos do mundo…
Fórmula que eu resumo chamando de amor, que sempre me moveu a tentar fazer surgir uma fênix de cada rebarba que o dia a dia me põe no caminho…
E se essa forma de interagir não serve pra tudo, posso garantir que no mínimo ela é aplicável a uma porcentagem GIGANTESCA de tudo que se descarta diariamente!
Atualmente, com a sustentabilidade muito mais em alta do que na minha infância, a internet possibilita acessarmos tutoriais grátis pra se aprender de um tudo.
Isso estimula muito um movimento crescente de aproveitamento e transformação de todo tipo de sobras e resíduos, de alimentos a componentes da indústria automobilística.
À parte isso, repito, algumas vezes o que faz mesmo diferença é olhar com amor, aceitando o processo até mais pelo movimento do que pelo resultado, evitando a ansiedade de querer que ele corresponda ao tutorial do site.
Isso sem falar que nem sempre se vai encontrar um passo a passo, um DIY que combina perfeitamente com aquele material novo e estranho que a gente quer aproveitar…
Amo vasculhar o mundo dos tutoriais, mas como possíveis inspirações, jamais deixando que engessem minha própria expressão.
É nessa vibe que acontece meu processo de transformar coisas aleatórias (muitas vezes, em outras mais aleatórias ainda – e, usando uma frase da moda, tá tudo bem)!
Vou gostar muito de voltar aqui e compartilhar com vocês um pouco das minhas aventuras nesse contexto de criar…
Já adianto que nem todas as minhas criações acontecem no ateliê, algumas são na cozinha, nas letras, no jardim…
Elas se espalham, florescem, se transformam (e me transformam)… Assim vão preenchendo, alegrando e ressignificando meus espaços (e propósitos) da vida!
Por hoje, senhoras e senhores, aproveito pra lhes mostrar Asa-Nuvem, uma tela que pintei com uma tinta chamada papel, digo, uma colagem, que me custou basicamente uns meses de dedicação, um pouco de cola caseira, muito papel de presente usado e uns riscos de corte e costura antigos.
Como disse, técnicas e materiais variam conforme o projeto.
Mas um amor sem tamanho sempre está por trás do que faço, sustentando qualquer processo.
Ah, e já ia esquecendo, eu sou a Suyan de Melo.