
Áustria, Alemanha e Polônia
Minha viagem começa com uma possibilidade de morar em Linz na Áustria, onde eu pretendia estudar na Universidade Hampton Bruckner (músico austríaco, compositor, pianista erudito).
Vivi esses meses na Europa com minha namorada Rafaela.
A experiência foi muito “massa”, a oportunidade surgiu após um contato com um casal de músicos no festival de jazz de Pipa (RN), ele é guitarrista e ela baixista.
Sempre sonhei em tocar no exterior e fazer carreira fora do Brasil.
Meus testes na Universidade
Apesar de ter passado em 3 provas práticas, não consegui vencer a etapa teórica, pois sempre fui muito mais ligada à execução das obras do que na teoria, como a maioria dos brasileiros, sempre aprendi muito nas rodas de instrumentistas, ouvindo grandes mestres, mas não temos noções básicas de música nas escolas.
Na Europa, os alunos possuem acesso às teorias musicais muito cedo, por meio das escolas.
Mas fiquei muito feliz por ter ido bem nas provas práticas e por ter tocado música brasileira!
Nossa música é muito respeitada no exterior.
Fui aplaudido pelos austríacos e isso é muito bom.
Essa universidade em Linz é incrível!
Fica numa cidade antiga e clássica, com muitas praças e obras de arte, cortada pelo rio Danúbio, igrejas lindas! Mas a cidade se divide entre as obras clássicas e as construções modernas e até futuristas! Inclusive essa universidade é assim.
Através de meus amigos pude conhecer a universidade por inteiro, realmente uma estrutura perfeita para o crescimento de um músico! Abre portas para espetáculos, projetos e apresentações de seus alunos.
Existem salas para todos os instrumentos, alto nível tecnológico, equipamentos de som, estúdios, computadores.
Nessa viagem pudemos ver como há muito mais respeito para com a arte e a música no exterior.
Mas quero contar sobre um momento especial, uma experiência inesquecível! Esse fato aconteceu em uma das minhas apresentações práticas:
Eu tinha levado “Asa Branca” do Mestre Luiz Gonzaga para executar, quando disse o nome da obra, um baixista que ia me acompanhar, falou em português: – “Eu escutei baião aí?”
Era um paraibano que estudava lá, logo trocamos abraço e uma boa conversa, essa proximidade fez com que a apresentação fosse incrível, ainda me acompanharam um pianista e um baterista!
O som e estúdio dessa audição estavam perfeitos. Uma grande experiência!
Durante nossos dias em Linz ainda pudemos assistir a formatura de nossos amigos. Eles apresentam uma composição, é como uma prova final!
Foi magnífico participar desse momento!
Muito bom ver uma audição onde as pessoas apreciam a arte e a boa música! Toda uma seriedade!
Nossa viagem foi no verão europeu, a cidade fica muito plena, as pessoas ocupam os espaços, pudemos curtir muito a cidade, as caminhadas, existem muitas opções pelas ruas, os dias são muito longos no verão, os restaurantes e os bares são muito movimentados!
Aconteceu um Festival de música eletrônica muito interessante, muitos instrumentos, shows de rap, hip hop, tudo isso num dialeto austríaco, juventude muito presente, mas havia pessoas de todas as idades!
As comidas e bebidas muito diferentes! E estão em barracas por todos os lados!
Curtindo Viena
Depois de Linz, fomos para Viena, lugar super tradicional na música, os melhores e maiores músicos tocam por lá! A cidade é muito linda e não foi tão afetada pela guerra como foi a Alemanha! Prédios maravilhosos, baixos e telhados lindos! Sistema de transporte perfeito!
Muito movimento, estava acontecendo um festival de cinema na praça principal, perto da prefeitura! Também um festival de jazz e com cartazes de Gilberto Gil, como convidado!
Nossos amigos formados em Linz estavam se estabelecendo em Viena após sua formatura!
Jazzland
Um dos grandes momentos que vivemos foi a visita ao Jazzland, bar tradicional desde a década de 70, onde já tocaram os grandes mestres.
Fica num porão, simbologia clara do preconceito com a música negra da época!
A construção chama atenção pois sua entrada é um portão discreto embaixo de uma igrejinha, todo de tijolinho, bem fechado, intimista. Dentro do porão todas as paredes são cobertas por fotos de todos que tocaram lá!
Eu nem acreditava que eu estava naquele santuário do jazz, uma “vibe” muito especial, o poder da música toma nossos pensamentos.
Minha parceira Rafaela sempre muita atenta, fazendo pesquisas na internet e descobrindo alternativas incríveis ligadas a música!
Sentamos bem em frente ao palco, onde se apresentava uma banda bem tradicional do jazz, com sax alto, trompete, piano, bateria e baixo, tocaram grandes clássicos do jazz, músicos virtuosos.
O dono do bar viu o quanto eu estava apaixonado por tudo aquilo e foi me mostrar as fotos, os detalhes, fiquei impressionado pois lá tocaram Joe Pez, Ray Brown, Art Farmer, uma noite inesquecível! Muitos dias pensando naquilo!
Fizemos amizade com Thomas, outro apaixonado por música, que nos convidou para outro show em outra casa em outro dia! Nesse outro bar souberam que éramos brazucas e já tocaram uma bossa nova! Um trompetista muito animado, muito amigável, nos levou conhecer a cidade a noite.
Conhecemos pessoas muito legais. Dizem que essas amizades formadas em viagens são para sempre!
A experiência se estendeu para Alemanha, onde conhecemos Berlin, Leipzig e Sttutgart e a Polônia.
Sempre muita música!
Seguimos para Berlim
Cidade incrível gigantesca, já com os problemas normais que uma urbanização traz. Mas uma cidade fantástica.
Pude comprar a guitarra dos meus sonhos, a guitarra do Pat Matine, músico vivo, ainda em atividade! Uma loja incrível especializada em instrumentos, cada andar reservado para um tipo de instrumentos e equipamentos de som.
Essa guitarra tem cor, som perfeitos, tem a assinatura dele e essa guitarra já me deu bons frutos, pois já me apresentei com ela várias vezes!
Fomos também a uma casa de show de jazz! Mas a banda apresentou o show experimental! Mais acadêmica! Infelizmente não foi tão interessante! Esse tipo de som é interessante, mas não fica bom para um show inteiro! Eles tentaram muitas variações de tempos musicais e ritmos.
Polônia
Meu pai é artista plástico e estava num Workshop/Exposição e nós fomos encontrá-lo e comemorar seu aniversário!
Mas antes ficamos uns dias em Estetino, cidade menor que nos permitiu ver mais a realidade da vida local, um pouco mais dura, pudemos ver marcas deixadas pelo pós-guerra.
Cidade pequena, cruzada por um rio, com uma grande roda gigante, o tempo já estava mais frio, população mais fechada, poucos falam inglês. Passamos 15 dias por lá, dias para descansar e caminhar!
Rafa pesquisando internet, descobriu um festival de fogos nessa pequena cidade, de repente a cidade ficou lotada, descobrimos que era um festival badalado, onde eles tocam música e aí vem o show de fogos de artifício! Fogos formam desenhos! Dois dias de festival e muita emoção!
Quando fomos encontrar meu pai num vilarejo chamado Marianovo Przystan, fomos de trem, caminho lindo, lá eu poderia tocar guitarra, ficamos num apartamento de um amigo dele muito bonito, conhecemos um fotógrafo muito bom e divertido.
Meu pai estava hospedado numa igreja de 1500, um vilarejo, atmosfera de pura arte, vários artistas pintando dentro da igreja.
Meu pai é genial, possui um trabalho com cores muito forte! Ele é do Acre, traz toda uma história com a Amazônia e isso se reflete em sua arte!
A noite tivemos um banquete com todos os artistas. Uma “vibe” incrível! Fui convidado para fazer uma apresentação musical com uma violinista, para abertura da exposição!
A música é incrível, do nada você pode conhecer um outro músico e fazer uma apresentação marcante! Sem ensaio e a improvisação foi perfeita, como diria Hermeto Pascoal, o improviso é sempre incrível, há universalidade na música!
Foi ligar os instrumentos e começamos! Jazz, música nordestina, bossa nova! Ela cantou além de tocar violino muito bem. Momentos inesquecíveis! Muitos elogios e aplausos.
O encontro com meu pai foi mágico, eu vendo ele produzir arte nos quadros e ele me vendo tocar muita música!
Nos dias que ficamos lá, pudemos passear muito de bicicleta e conhecer pés de maça e de pera, eu não conhecia!
Quando estivemos em Sttutgart!
No começo da viagem passamos por Sttutgart para visitar um amigo que está fazendo mestrado em Economia. Deixamos algumas malas, pois fomos com malas para morar lá, caso eu fosse aprovado na Universidade.
Achamos muito engraçado como eles possuem costumes muito diferentes dos nossos, eles adoram o sol e são capazes de colocar cadeira de praia na calçada de uma grande avenida para sentar e tomar sol lendo um livro!
Pudemos curtir muita música em Sttutgart, junto com meu amigo, conhecemos muitos jovens e uma italiana disse que tínhamos que incluir Leipzig no roteiro, pois era uma cidade de jovens, universidades, quase uma nova Berlim.
Parada final Leipzig
Realmente uma cidade jovem. Alugamos um espaço para ficar, sem conhecer os bairros e ficamos num bairro tradicional de Punk, moicanos gigantes, mas muito simpáticos.
Os prédios eram “irados”, muitas pinturas e obras de arte, prédio antigos, apartamentos imensos! Quem alugou para nós era um DJ. Muitos indianos no local. Ficamos numa avenida que ia direto para o centro e era cheia de bares e restaurantes! A rua ficava lotada, um ponto de encontro para conversar! Você pode circular tranquilamente!
Existia um grande parque com lago, tipo uma praia, onde todos vão curtir o sol e tomar banho. Um por de sol realmente muito lindo! Muito divertido, as pessoas tomam banho no lago pelado mesmo! Fazíamos trilhas para chegar ao parque e muitos passeios de bike!
Fomos conhecer uma escola de música antiquíssima, totalmente restaurada, impecável, fica bem no centro, muitas crianças estudando. Eles valorizam muito a arte e a música.
Hora de música: mais uma experiência especial!
Rafa como sempre pesquisando opções na internet, descobriu, em plena segunda, um bar com show ao vivo, uma apresentação de jazz fantástica e após o show abriram para quem quisesse se apresentar, eu estava sem a guitarra e deixei para voltar na semana seguinte.
Na outra semana voltamos com a guitarra, mas o bar estava lotado, por eventos locais! Fui falar com os outros músicos.
Começamos a tocar bossa nova, começamos a tocar Corcovado e um alemão subiu e cantou em português com sotaque, mas ele conhecia a letra toda!
Eles valorizam muito a música brasileira! Tocamos Insensatez, Manhã de carnaval e mais alguns clássicos do jazz.
Acabou o horário dos convidados! Fiquei feliz pois me convidaram para continuar tocando e a viagem teve um final muito especial para mim!
Estava na hora de retornar a Sttutgart, pegar as malas e voltar ao Brasil.