Quando falamos de infoprodutos, como sites, e-Books, cursos online e outros materiais digitais, a intuição pode ser uma ferramenta valiosa e perigosa se não for equilibrada com métodos de validação sólidos. O efeito Dunning-Kruger e o viés de excesso de confiança, como são conhecidos em estudos de psicologia, nos ajudam a compreender melhor por que algumas decisões não são tão eficientes, mesmo quando parecem promissoras. Como isso afeta a criação de produtos digitais? Vamos entender juntos.
O Que São o Efeito Dunning-Kruger e o Excesso de Confiança?
O efeito Dunning-Kruger, identificado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, descreve como indivíduos com pouca experiência em uma área tendem a superestimar suas habilidades. Ao mesmo tempo, aqueles com maior competência frequentemente subestimam seu próprio conhecimento. Esse viés cognitivo se entrelaça com o excesso de confiança, onde julgamentos subjetivos superam a precisão objetiva.
No livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, de Daniel Kahneman, aprendemos que o cérebro humano opera em dois sistemas. O “Sistema 1” é rápido, intuitivo e impulsivo; o “Sistema 2” é mais lento, deliberado e analítico. Quando decisões na criação de produtos digitais são dominadas pelo Sistema 1, podemos cair na armadilha de confiar demais na intuição, sem considerar dados ou evidências concretas.
A Armadilha do Excesso de Confiança na Criação de Infoprodutos
Vamos imaginar que estamos criando um curso online ou um e-Book. Ao entrevistar possíveis consumidores, eles dizem, com confiança, o que acham que querem aprender ou como gostariam de consumir aquele conteúdo. No entanto, suas preferências podem não refletir o que de fato farão quando o produto for lançado. Isso é um reflexo direto do viés de excesso de confiança.
Um bom exemplo disso é o fracasso do New Coke. Pesquisas apontaram que os consumidores iriam preferir uma fórmula mais doce, mas, quando o produto chegou ao mercado, a rejeição foi enorme. Isso aconteceu pelo excesso de confiança da pesquisa, nas declarações dos consumidores, que ignorou o contexto emocional e cultural que envolvia a marca original.
Ao criar um curso ou outro infoproduto, podemos cair no mesmo erro ao perguntar, diretamente aos usuários, o que eles preferem. Respostas como “um curso mais curto” ou “um design mais colorido” podem parecer úteis, mas sem testes reais de mercado, corremos o risco de lançar um produto que não atende ao comportamento real dos consumidores.
O Case iOS 18 e a Personalização dos Ícones
Pessoalmente, também sou usuária e fã da Apple e fiquei um pouco desapontada com a nova funcionalidade de personalização de ícones no iOS 18. Ok! Sabemos que este era um recurso há tempos pedido pelos usuários, mas sua implementação criou um visual estranho, desordenado e pouco, ou nada intuitivo, o que, em nada combinou com a experiência de simplicidade associada à marca.
Essa situação exemplifica o que Kahneman descreve como viés de retrospectiva, onde as pessoas acreditam que sabiam o que queriam o tempo todo, mas só percebem os erros quando já é tarde demais. A Apple, tradicionalmente guiada pela intuição de Steve Jobs, tentava entregar o que os consumidores precisavam, e não apenas o que eles achavam que queriam. A mudança no iOS 18 destaca, como ceder demais à pressão do “desejo popular”, pode prejudicar a identidade e a usabilidade de um produto.
Estratégias para Criar Infoprodutos com Sucesso
- Valide com Dados Quantitativos
Realizar testes de usabilidade ou analisar métricas de comportamento em produtos existentes é muito mais eficaz do que confiar em pesquisas qualitativas isoladas. Por exemplo, em vez de perguntar aos usuários se eles comprariam um curso, experimente vender uma versão piloto a um grupo pequeno para medir a conversão real. - Pense no Longo Prazo
Nem sempre o que é mais popular no momento será útil no futuro. Henry Ford dizia que, se tivesse perguntado aos consumidores o que queriam, eles teriam respondido “um cavalo mais rápido”. O mesmoIsso vale para infoprodutos: é preciso liderar com visão, não apenas com respostas imediatas. - Cuidado com o Sistema 1
Use o Sistema 2 para decisões estratégicas. Embora a intuição possa ser um ponto de partida, revisite suas ideias com análises críticas e dados. Isso pode significar revisar um roteiro de curso, para garantir que ele se baseie em problemas reais e não em hipóteses não testadas. - Evite o Viés da Confirmação
Pessoalmente, gosto muito desse viés.
É comum buscarmos evidências que confirmem o que já acreditamos ser verdade. Peça feedback de pessoas que possam discordar de suas ideias e teste suas hipóteses com ceticismo.
Por Que Algumas Funcionalidades Não Funcionam?
A criação de sites, e-Books ou cursos online bem-sucedidos exige equilíbrio entre ouvir o público e antecipar necessidades não declaradas. Recursos como o Apple Intelligence no iOS 18 mostram que, a inovação verdadeira vem de soluções que os usuários não sabiam que precisavam, mas que facilitam suas vidas. Por outro lado, a personalização dos ícones mostra como atender pedidos explícitos, sem análise crítica, pode gerar insatisfação.
Conclusão: Líderes, Não Seguidores
Criar infoprodutos que realmente impactem o mercado exige coragem para liderar e métodos para validar. Como exemplificado por Kahneman, Jobs e o fracasso do New Coke, confiar demais na intuição ou nas respostas declaradas pelos usuários, pode levar ao insucesso.
Seja na criação de um curso transformador ou no lançamento de um novo site, lembre-se: o equilíbrio entre inovação, dados e visão clara é a chave para o sucesso. Afinal, os consumidores podem não saber o que querem até que você mostre a eles – e esse é o verdadeiro papel de um criador de produtos digitais.
Fontes Confiáveis para Leitura Adicional
Para aprofundar o entendimento sobre o efeito Dunning-Kruger, viés de excesso de confiança e o viés da confirmação e outros vieses, recomendo os seguintes artigos acadêmicos e livros:
Dunning, D., & Kruger, J. (1999). “Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments.” Journal of Personality and Social Psychology.
Nate Silver, “The Signal and the Noise” (2012). Uma exploração sobre previsões e vieses – como o excesso de confiança pode levar ao fracasso.
Artigo na UXMyths: “Myth #21: People can tell you what they want.”
Predictably Irrational, de Dan Ariely, que explora os padrões de comportamento irracional dos seres humanos e como isso afeta suas escolhas.
Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, de Daniel Kahneman, que explora os vieses cognitivos e como eles afetam nossas decisões.