
Uma visão compartilhada
Nosso texto foi escrito de forma compartilhada, eu Cosmo um pouco mais velho e Beatriz bem mais jovem. A ideia é mostrar como essa autora, Cora Coralina, toca corações e mentes.
Esse projeto de unir pessoas diferentes para falar sobre grandes autores e obras se inicia com Cora e vai se expandir muito!
Uma Ana entre tantas Anas, uma mulher brasileira!
Cora Coralina nasceu Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, em Goiânia no ano de 1889, viveu quase 100 anos, mas nos deixou em 1985, uma escritora que só começou a publicar seus primeiros textos em 1965, com 76 anos e falava com pureza, leveza e sinceridade. Escreveu e guardou seus escritos uma vida inteira.
Para mim, Cosmo, foi uma especial poetisa e contista brasileira, uma das mais importantes das nossas escritoras.
Era uma pessoa simples, viveu fazendo doces que ganhou a vida e colocou em seus textos essa doçura, trazem na verdade uma mistura do interior e da vida urbana.
Nunca deixou de lado sua força como mulher e como cidadã.
Vamos apresentar alguns textos da autora, vamos começar por este abaixo, esse texto me representa:
” Ofertas de Aninha (Aos moços) Cora Coralina
- Eu sou aquela mulher
- a quem o tempo
- muito ensinou.
- Ensinou a amar a vida.
- Não desistir da luta.
- Recomeçar na derrota.
- Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
- Acreditar nos valores humanos.
- Ser otimista.
- Creio numa força imanente
- que vai ligando a família humana
- numa corrente luminosa
- de fraternidade universal.
- Creio na solidariedade humana.
- Creio na superação dos erros
- e angústias do presente.
- Acredito nos moços.
- Exalto sua confiança,
- generosidade e idealismo.
- Creio nos milagres da ciência
- e na descoberta de uma profilaxia
- futura dos erros e violências
- do presente.
- Aprendi que mais vale lutar
- do que recolher dinheiro fácil.
- Antes acreditar do que duvidar.”

O texto me mostra essa alma profunda, que transmitia com simplicidade os sentimentos humanos! Sinto suas palavras como se fosse uma das mulheres de minha família falando comigo! Sinto-me parte de seus textos, agregam muito em mim, pois são Vida Real!
Cora falou de trabalho, de ser mulher, do dia a dia, sempre com uma verdade muito intensa:
“Estas mãos Cora Coralina
- Minhas mãos doceiras
- Jamais ociosas
- Fecundas. Imensas e ocupadas
- Mãos laboriosas
- Abertas sempre para dar
- ajudar, unir e abençoar.”
Queremos levar ao grande público um pouco dessa Cora, que gosto de ler, que representa tantas mulheres, minha intenção é fazer com que muitos descubram essa mulher talentosa e que levava no seu expressar, tudo sobre a vida!
O texto abaixo levou a criação do filme “Cora Coralina – Todas as Vidas”:
- “Vive dentro de mim uma cabocla velha
- de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho,
- olhando para o fogo.
- Benze quebranto. Bota feitiço…
- Ogum. Orixá.
- Macumba, terreiro.
- Ogã, pai-de-santo…
- Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho.
- Seu cheiro gostoso d’água e sabão.
- Rodilha de pano.
- Trouxa de roupa, pedra de anil.
- Sua coroa verde de São-Caetano.
- Vive dentro de mim a mulher cozinheira.
- Pimenta e cebola. Quitute bem feito.
- Panela de barro. Taipa de lenha.
- Cozinha antiga toda pretinha.
- Bem cacheada de picumã.
- Pedra pontuda. Cumbuco de coco.
- Pisando alho-sal.
- Vive dentro de mim a mulher do povo.
- Bem proletária.
- Bem linguaruda, desabusada,
- sem preconceitos, de casca-grossa,
- de chinelinha, e filharada.
- Vive dentro de mim a mulher roceira.
- -Enxerto de terra, Trabalhadeira.
- Madrugadeira. Analfabeta.
- De pé no chão.
- Bem parideira. Bem criadeira.
- Seus doze filhos, Seus vinte netos.
- Vive dentro de mim a mulher da vida.
- Minha irmãzinha…
- tão desprezada, tão murmurada…
- Fingindo ser alegre
- seu triste fado.
- Todas as vidas dentro de mim:
- Na minha vida –a vida mera
- das obscuras!
No texto a seguir, vejam o quanto ela pode ser inserida nos nossos dias de pandemia.
- “Tempo virá.
- Uma vacina preventiva de erros e violência se fará.
- As prisões se transformarão em escolas e oficinas.
- E os homens, imunizados contra o crime, cidadãos de um novo mundo,
- contarão às crianças do futuro, estórias absurdas de prisões, celas, altos muros, de um tempo superado.”

Para mim, Bia, Cora Coralina era uma poetisa goiana que conquistou e inspirou a tantos, dos tempos de suas primeiras publicações até os dias atuais.
Conheci Cora por meio de recadinhos colocados no final de avaliações escolares.
As palavras amenas da escritora exprimiam calma e sabedoria, mesmo que nos momentos mais tensos.
Sua experiência de vida, frustrações, medos, aprendizados e inúmeros sentimentos eram traduzidos em textos que levam o leitor a uma reflexão profunda sobre a vida, a existência, as relações do ser com seus semelhantes e consigo mesmo.
- “Eu sou aquela mulher, a quem o tempo muito ensinou.
- Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos.
- Acreditar nos valores humanos e ser otimista. Aprendi que mais vale tentar do que recuar…
- Antes acrescentar que duvidar, o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a nossa caminhada.”
Uma mulher inteligente, batalhadora, com grande engajamento social. Lutava por suas causas e se posicionava politicamente sem medo de represálias mesmo em tempos conturbados, como o período de ditadura militar.
Sua esperança na humanidade e a motivação com que encarava e escrevia sobre o futuro reproduzem sua própria superação pessoal, por sua infância simples e sua fase adulta em tempos que as mulheres eram ainda mais desvalorizadas.
“Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver”.
Seja em seus versos românticos, em suas descrições de lugares por onde passou ou vivências parafraseadas, Cora sempre traduz de forma simples e fascinante seus conhecimentos e opiniões. Seus poemas têm grande informalidade e clareza nas palavras, mesmo carregados de significado e simbologia.
Segundo a própria Cora, “nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas” e ela soube fazê-lo como ninguém!
Bia

Nosso convite nesse texto é:
Leia Cora, sinta Cora, deixe a arte fazer parte da sua vida!