Uma criança chorando no auditório.
Uma jovem negra de 25 anos chorando no auditório da Universidade, enquanto Conceição Evaristo declamava, quando olhei nos olhos de minha mãe; Olhos D´agua.
Eu vi minha mãe e vi seus olhos, a enxerguei…eram Olhos D´agua.
Ali, entre centenas de pessoas vi a imagem de minha mãe, senti suas dores e me afoguei em lágrimas.
Com certeza, a partir dali eu já não era mais a mesma.
Quando procurei seu livro e sua história percebi que sua escrita, fala e presença me tocou
profundamente, porque a dor da mulher negra é similar e singular, e acima de tudo coletiva!
Conceição Evaristo representa histórias de mulheres negras em diferentes regiões brasileiras, além de elementos afros, em sua narrativa, de forma magnífica, me fazendo mergulhar nas histórias, como se eu estivesse nelas, sentindo cada emoção das personagens.
Conceição Evaristo – Olhos D’Água – YouTube
Quem é Conceição Evaristo,
Conceição é mineira, filha da terra e sua mãe é Dona Joana Josefina Evaristo, mãe de nove filhos, mãe de Conceição que inspirou seu conto Olhos D´água. Seu padrasto, a quem sempre considerou seu pai, pois do biológico sabe pouco, é Aníbal Vitorino.
O que sempre intrigou a escritora é o fato de, em seu registro de nascimento, constar a palavra “parda”, sendo e sabendo que é filha de uma mulher negra.
Conceição Evaristo | Enciclopédia Itaú Cultural (itaucultural.org.br)
Comigo aconteceu o mesmo, em meu registro consta “branca”. No dia do nascimento de minha filha, me lembro nitidamente, do olhar da enfermeira para mim, uma mulher negra e para o pai da minha filha, um homem negro, enquanto dizia que minha filha se encaixava na categoria “parda”.
Uma questão similar entre os povos brasileiros, que Conceição descreve em seus escritos e faz questão de ressaltar em sua biografia, com certeza, ela é um marco na literatura brasileira retratando os povos afros e originários do nosso território.
Conceição descreve, com riqueza de detalhes, como foi sua infância e setenário, como a segunda irmã mais velha de 9 filhos, que cresciam na escassez de ser uma família negra na periferia da cidade, e ainda, conta um pouco sobre a forma como sua vida e a de Carolina Maria de Jesus, andavam juntas e conversavam, diante dos desafios de ser uma mulher negra e favelada.
“Guardo comigo esses escritos e tenho como provar, em alguma pesquisa futura, que a favelada do Canindé criou uma tradição literária.” , diz a professora Universitária Maria da Conceição Evaristo de Brito, escritora Conceição Evaristo, criadora de uma tradição literária.
Se quer conhecer um pouco mais sobre ela, sugiro ler seu depoimento abaixo:
Conceição Evaristo – Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br)
Eu e os textos de Conceição…
Depois da universidade, constituí família e hoje enxergo os olhos de minha mãe como uma mãe, são olhos d´agua, olhos de mãe…
Hoje, vivo como em outro conto do livro de Conceição: Ayoluwa, a alegria de nosso povo, que retrata a chegada de uma nova vida entre um povo desolado e sem esperanças.
Uma criança é sempre uma ressureição e nos lembra a alegria de ser/existir.
Alicia chegou na quarentena, período incerto, duvidoso, todos com muito medo e perdendo pessoas… Toda criança que nascia era uma luz para iluminar a escuridão, ainda há futuro. Esse sentimento é retratado por Conceição no conto, mas em outra época… “Ayoluwa” em Yorubá significa “alegria”.
“A gente combinamos de não morrer”, é outro conto que está em sua espetacular
representação dessas histórias, que fico sem saber se são reais ou fictícias… de certo, é uma
linda mistura dos dois, mas com muita verdade em cada página.
Conceição está viva e é importantíssimo ser reconhecida como uma escritora/criadora de uma tradição literária de mulheres negras, afro-brasileiras.
Leia Conceição Evaristo para mergulhar em suas linhas e se tornar, assim como eu, uma nova pessoa.
Link para o livro Olhos dágua: