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Mário Quintana

Poeta dos Sonhos 

Um homem que levava a sério a arte de brincar com as palavras, mas que não se levava tão a sério. Bom, eu diria que esse era Mário Quintana, gaúcho de Alegrete, nascido em 1906, vivendo boa parte da vida em Porto Alegre… 

Ele gostava de dizer que tinha uma “alma cheia de vento e borboletas”.

“Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…”

Já criança, mostrava ser um observador nato. 

Adorava os detalhes: o voo dos pássaros, as pequenas flores que nasciam nas calçadas, e o silêncio das madrugadas. 

Foi a sensibilidade que o transformou em um dos maiores poetas brasileiros. 

Seu jeito simples de ver o mundo logo virou poesia, encantando com versos que pareciam conversar diretamente com o coração.

No fim, tu hás de ver que as coisas mais leves, são as únicas

“que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo

um carinho no momento preciso

o folhear de um livro de poemas

o cheiro que tinha um dia o próprio vento…”

Mas, não pense que teve uma vida fácil.  Quando jovem, ele enfrentou tempos difíceis e trabalhou como tradutor e jornalista para se sustentar. 

Só que, claro, ele não fez isso de qualquer jeito. 

Algumas pessoas dizem que ele conseguia transformar até a bula de um remédio, em algo poético! 

Seiscentos e sessenta e seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Durante muito tempo viveu no Hotel Majestic, em Porto Alegre. 

Sim, você leu certo: ele morou anos em um hotel, como se fosse um personagem saído de um filme antigo! 

Não tinha uma residência fixa, gostava de observar a vida que acontecia na cidade, e da realidade obtinha inspiração.

Meu Quintana

Meu Quintana, os teus cantares

Não são, Quintana, cantares:

São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares…

Insólitos, singulares…

Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,

Abrem sempre os teus cantares

Como flor de quintanares.

São cantigas sem esgares.

Onde as lágrimas são mares

De amor, os teus quintanares.

São feitos esses cantares

De um tudo-nada: ao falares,

Luzem estrelas luares.

São para dizer em bares

Como em mansões seculares

Quintana, os teus quintanares.

Sim, em bares, onde os pares

Se beijam sem que repares

Que são casais exemplares.

E quer no pudor dos lares.

Quer no horror dos lupanares.

Cheiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,

Pois são simples, invulgares.

Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,

Quintana, nos teus cantares…

Perdão! digo quintanares.

Mário não gostava de formalidades. Se alguém perguntava sobre a morte, ele ironizava dizendo que seria apenas uma mudança de endereço.

Algumas frases marcantes:

“Morrer é um pouquinho mais do que nada”

“Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…”

A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.”

Um bom exemplo de como ele levava, com leveza, até os assuntos mais profundos.

Quintana tinha um senso de humor delicioso. 

Certa vez, um crítico literário disse que ele nunca conseguiria uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. 

Você imagina o que ele fez? 

Riu e respondeu que a falta de uma cadeira não lhe importava! 

“o que me falta mesmo é o jeito de sentar”.

Nunca se preocupou com títulos pomposos. 

Mas sua obra já o colocou num alto pedestal dentro da literatura do Brasil.

Duas frases dele para mim são marcantes:

“Há noites que eu não posso dormir de remorso 

por tudo o que eu deixei de cometer.”

“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente…”

Acho que podemos dizer que Mário Quintana é o poeta das coisas simples, onde a nostalgia parece doce e onde a infância parece eterna. 

Leia mais suas poesias pois elas nos fazem lembrar que a vida é cheia de momentos deliciosos e perfeitos, mas realça que esses momentos não podem passar despercebidos. 

Morreu em 1994, mas está vivo para todos os lados, pois é citado com frequência e lido com muita perfeição, por muitos outros artistas.