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Drummond em sua 2ª fase

Decifrando um claro enigma

Guerra fria, governo Dutra, governo Vargas. 

Em meio a todos esses importantes eventos históricos, movimentos artísticos também fizeram seus marcos. 

O modernismo foi um importante movimento literário da época, dividido em algumas fases que abrigaram diversos autores que nos acompanham até os dias atuais. 

Entre estes, está Carlos Drummond de Andrade, um mineiro muito famoso por poemas e por suas amizades com Manuel Bandeira e Mário de Andrade, nomes influentes, principalmente após a semana de arte moderna, em 1922.

Dentre suas obras mais conhecidas e solicitadas para vestibulares, está Claro Enigma. 

Escrita em meio a um conturbado contexto sociopolítico brasileiro do século XX, o 7º livro publicado por Drummond é dividido em 6 capítulos, que abordam diferentes sentimentos e conceitos subjetivos. 

“os acontecimentos me entediam”. 

Esta é a epígrafe do autor. 

Uma contradição tão grande quanto o próprio título, visto a gama de acontecimentos da época. 

Mas o ar poético e simultaneamente simples, caracteriza o estilo de Drummond.

No primeiro dos capítulos, Entre lobo e cão, os poemas dizem sobre o tempo, o mundo, o nascer, o morrer, as lembranças deste intervalo e outras questões e definições. 

No segundo, Notícias amorosas, o próprio título já é sugestivo. O capítulo trata do ponto de vista amoroso do autor, de como ele acredita que amar nos mantém vivo. 

Em O menino e os homens, Drummond expõe suas influências durante a vida e aproveita para fazer algumas dedicações. Ele se refere a algumas fases do crescimento e desenvolvimento humano. 

Já em Selo de Minas, ele lembra suas origens e relembra características de sua cidade natal. No último poema, longo e de estrofe única, é feito um retrato de uma boa convivência familiar e ações que marcaram cada um dos seus. 

No penúltimo, Lábios cerrados, são relembradas figuras da família que já faleceram e que, mesmo com os lábios fechados (cerrados), exercem inspiração e influência sobre suas atitudes, obras e ensinamentos. 

Para encerrar, em A máquina do mundo, forma-se o capítulo mais curto, composto por apenas 2 poemas, sendo um desses, um dos mais famosos do autor. 

No decorrer de toda obra há uma certa perspectiva pessimista do autor, refletindo sobre a passagem da vida e marcas de sua trajetória pessoal, além de uma intertextualização que convida os leitores a conhecer muito mais de seu trabalho em suas outras obras e fases paralelas. 

“Legado

  • Que lembrança darei ao país que me deu
  • tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
  • Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu
  • minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
  • E mereço esperar mais do que os outros, eu?
  • Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
  • Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
  • a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
  • Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
  • uma voz matinal palpitando na bruma
  • e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
  • De tudo quanto foi meu passo caprichoso
  • na vida, restará, pois o resto se esfuma,
  • uma pedra que havia em meio do caminho.. “

E aí, aceita o convite?  

Decifre também o claro enigma que este brilhante autor nos deixou, além de inúmeras outras viagens literárias que as páginas nos promovem.

Sou a Beatriz, jovem estudante de medicina veterinária. Nascida e residente em São Paulo, sou apaixonada por animais, música e literatura. 💖