
Como sua obra é atual e verdadeira
Castro Alves, poeta baiano, viveu pouco, mas foi intenso, fez parte da última geração romântica. Famoso como o “Poeta dos Escravos”, mas suas poesias falavam de liberdade e não da escravatura! Suas composições traziam toda uma influência de Vitor Hugo.
Foi um poeta amplo, pois além de sua luta pela Liberdade, foi responsável por inúmeras poesias de amor e de questionamento da existência.
Suas poesias e poemas faziam as pessoas pensar na questão escravocrata! Na necessidade da liberdade e da dignidade! Não ficou atrás dos livros, ou das palavras, declamava em eventos, se fazia presente, questionador.
Mostrava sua indignação sobre temas sociais e políticos, defendia a abolição e a República.
Um marco importante a salientar é que junto a Rui Barbosa fundaram uma sociedade abolicionista junto a Faculdade de Direito.
Alguns trechos onde defendia a ABOLIÇÃO são necessários! Ontem, hoje e amanhã, pois a libertação foi legitimada, mas a discriminação não! O preconceito não. A raiz da migração escravocrata gera o racismo estrutural.
Abaixo vou citar trechos, pois quero que cada um de vocês tenha vontade de procurar sua obra completa. Você pode considerar “antiga”, mas somente na forma, mas não no contexto, algumas delas poderiam muito bem ser um funk, uma música de debate para nossos dias.
Ode a 2 de Julho
Trecho da Ode ao dois de julho – Castro Alves se fez presente no Teatro de São Paulo e fez ecoar suas palavras:
- “Não! Não eram dois povos, que abalavam
- Naquele instante o solo ensanguentado…
- Era o porvir—em frente do passado,
- A Liberdade—em frente à Escravidão,
- Era a luta das águias — e do abutre,
- A revolta do pulso—contra os ferros,
- O pugilato da razão — com os erros,
- O duelo da treva—e do clarão!…
- No entanto a luta recrescia indômita…
- As bandeiras — como águias eriçadas —
- Se abismavam com as asas desdobradas
- Na selva escura da fumaça atroz…
- Tonto de espanto, cego de metralha,
- O arcanjo do triunfo vacilava…
- E a glória desgrenhada acalentava
- O cadáver sangrento dos heróis!…”
O navio negreiro:
- Estamos em pleno mar…
- Doudo no espaçoBrinca o luar
- – dourada borboleta;
- E as vagas após ele correm… cansam
- Como turba de infantes inquieta.
Estamos em pleno mar… Do firmamento - Os astros saltam como espumas de ouro…
- O mar em troca acende as ardentias,
- – Constelações do líquido tesouro…
Estamos em pleno mar… - Dois infinitos
- Ali se estreitam num abraço insano azuis, dourados, plácidos, sublimes…
- Qual dos dois é o céu? qual o oceano?…”
Outra obra fundamental, a Canção do africano:
- “Lá na úmida senzala,
- Sentado na estreita sala,
- Junto ao braseiro, no chão,
- Entoa o escravo o seu canto,
- E ao cantar correm-lhe em pranto
- Saudades do seu torrão …
- De um lado, uma negra escrava
- Os olhos no filho crava,
- Que tem no colo a embalar…
- E à meia voz lá responde
- Ao canto, e o filhinho esconde,
- Talvez pra não o escutar!
- “Minha terra é lá bem longe,
- Das bandas de onde o sol vem;
- Esta terra é mais bonita,
- Mas à outra eu quero bem!”
Castro Alves não se limitava a abolição, pois era questionador em termos sociais também. Questionava o mundo e o seu papel na sociedade. Defendia a liberdade de imprensa, ficava indignado com as diferenças sociais, questionava as necessidades humanas.

Escrevia e defendia
Era um autor inflamado. Buscava influenciar o leitor, queria mobilização. Participava ativamente de comícios e debates.
Trechos importantes:
“República!… Vôo ousadoDo homem feito condor!Raio de aurora inda ocultaQue beija a fronte ao Tabor!Deus! Por qu’enquanto que o monteBebe a luz desse horizonte,Deixas vagar tanta fronte,No vale envolto em negror?!… Inda me lembro… Era, há pouco,A luta!… Horror!… Confusão!…A morte voa rugindoDa garganta do canhão!..O bravo a fileira cerra!…Em sangue ensopa-se a terra!…E o fumo — o corvo da guerra —Com as asas cobre a amplidão…” | “ Talhado para as grandezas,P’ra crescer, criar, subir,O Novo Mundo nos músculosSente a seiva do porvir.—Estatuário de colossos —Cansado doutros esboçosDisse um dia Jeová:“Vai, Colombo, abre a cortina“Da minha eterna oficina…“Tira a América de lá”. Molhado inda do dilúvio,Qual Tritão descomunal,O continente despertaNo concerto universal.” |
Esse autor se torna ainda mais atual quando amarra sua poesia no amor, na paixão, na sensualidade, pois fala de amor com verdade, como se o amor fizesse parte de sua vida.
O autor se apaixonou pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, muitos de seus versos de amor foram motivados por esse amor, apesar de ser um relacionamento difícil, onde o ciúme era uma marca constante.
Trechos marcantes:
O gondoleiro do amor
- “Teus olhos são negros, negros,
- Como as noites sem luar…
- São ardentes, são profundos,
- Como o negrume do mar.”
- Adormecida
- “Uma noite eu me lembro… Ela dormia
- Numa rede encostada molemente…
- Quase aberto o roupão… solto o cabelo
- E o pé descalço do tapete rente.
- ´Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
- Exalavam as silvas da campina…
- E ao longe, num pedaço do horizonte
- Via-se a noite plácida e divina.”
- Onde estás
- “É meia-noite. . . e rugindo
- Passa triste a ventania,
- Como um verbo de desgraça,
- Como um grito de agonia.
- E eu digo ao vento, que passa
- Por meus cabelos fugaz:
- Vento frio do deserto,
- Onde ela está? Longe ou perto?
- Mas, como um hálito incerto,
- Responde-me o eco ao longe:
- Oh! minh’amante, onde estás?…”
Para trazer Castro Alves ainda mais próximo dos nossos dias, podemos ver seu lado realista, onde podemos notar a solidão, as angústias, os medos e a dor.
Trecho de Quando eu morrer
- “Quando eu morrer… não lancem meu cadáver
- No fosso de um sombrio cemitério…
- Odeio o mausoléu que espera o morto
- Como o viajante desse hotel funéreo.
- Corre nas veias negras desse mármore
- Não sei que sangue vil de messalina,
- A cova, num bocejo indiferente,
- Abre ao primeiro o boca libertina.
- Ei-la a nau do sepulcro—o cemitério…
- Que povo estranho no porão profundo!
- Emigrantes sombrios que se embarcam
- Para as plagas sem fim do outro mundo.”
Trecho da Canção do boêmio
- “A passos largos eu percorro a sala
- Fumo um cigarro, que filei na escola…
- Tudo no quarto de Nini me fala
- Embalde fumo… tudo aqui me amola.
- Diz-me o relógio cinicando a um canto
- “Onde está ela que não veio ainda?”
- Diz-me a poltrona “por que tardas tanto?
- Quero aquecer-te rapariga linda.”
Se fizermos um esforço de linguagem, poderemos entender Castro Alves como um artista muito atual, apaixonado e angustiado com o amor, defensor da liberdade, atuante na defesa dos direitos do cidadão e extremamente presente na luta pela liberdade!
Gostaria de agradecer a Doutora em Estudos da Cultura, Rebeca Fuks, que me inspirou a falar de Castro Alves nos dias atuais! Sugiro que leiam seus textos sobre grandes autores!