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Malemolência

Outro dia, uma amiga me desafiou a falar sobre malemolência… eu adorei, pois acho o assunto muito Brasil, muito meu, muito do meu povo. 

Não gosto quando as pessoas usam o substantivo como algo ruim, pois isso indica que desconhecem tudo que está envolvido nele.

O dicionário e as pessoas mais conservadoras e aceleradas diriam ser indisposição, preguiça, artimanha, excesso de tranquilidade e, às vezes, até malandragem.

Olha que absurdo os sinônimos de malemolência!

Malandragem, fleuma, pachorra, pretexto, molejo, indisposição, moleza, preguiça, subterfúgio.

E na dança? 

“Ação que denota malícia em certos comportamentos; molejo… 

Relacionado ao ritmo ou a dança do samba, comportamento do que seria antigamente caracterizado pelos malandros; malandragem. “

Que absurdo!

Eu diria que é um molejo, uma habilidade de se dar o tempo certo para fazer as coisas, um jeito sensualmente delicado de se movimentar, de se mexer, de se expressar. 

Eu gosto de dizer que é o jeito de andar, de dançar, de olhar, de conquistar do brasileiro, diria até que é um forrobodó…  

O estrangeiro quando samba e dança a lambada e o forró, parece que está com pressa, ficam tentando aprender, decorar passos, enquadrar a dança…

Mas não conseguem mexer o quadril, a cintura, os joelhos e os pés com sensualidade, com permissão de ser feliz, com um toque de liberdade e ousadia. Isso tudo faz parte da malemolência.

Dançar e andar com malemolência é deixar o corpo sentir o ritmo, as batidas dos instrumentos e do coração, feche os olhos, sinta-se feliz, sinta que seu corpo te pertence, se ame e deixe o corpo se mover… 

Acho engraçado como o ser humano é capaz de criar tantas regras de comportamento social para reduzir sua liberdade natural, sua sensualidade e até sua expressão de sentimentos.

Os latinos, os africanos, os indianos e alguns povos do oriente possuem sensualidade em suas danças, mas a malemolência é nossa, brasileira, pois ela vem da mistura de tudo, vem da diversidade de povos misturados nessa terra maravilhosa chamada Brasil.

Você já parou para pensar se as pessoas que você chama de preguiçosas ou lentas são mesmo assim ou se você que se cobra tanto, que corre tanto e que quer imprimir nos outros a sua obsessão por correr para fazer tudo?

Eu acho engraçado, quando tiro férias e vou para uma praia, no mesmo dia que eu chego, tiro os sapatos, aquelas roupas chatas de escritório, piso no chão e mudo meu ritmo, é maravilhoso!!! O dia parece infinitamente maior, eu me permito ser livre do relógio, dos prazos, das cobranças e dos medos. Nesses momentos, descubro o que é viver de verdade!

Mas muitos dos meus amigos continuam com pressa, reclamam da demora dos pratos, da cerveja, não reduzem o ritmo, não se permitem desacelerar, sofrem com atrasos, com coisas bobas. Entregue-se nas suas férias, solte sua malevolência!

Amigos aposentados ou em férias, se livrem dos relógios, só usem o celular se necessário e não levem nenhum outro equipamento relacionado ao trabalho.

Ufa! Posso andar sem pressa, deitar na grama, na areia e descansar com toda malemolência, com toda suavidade, redescubro o prazer de caminhar, de dançar, de mergulhar e se o samba ou algum outro ritmo bem quente tocar, quero mais é me sentir vivo, me sentir solto, livre dos preconceitos, das regras e das maldades alheias.

Adoro a música de Céu e Alec Haiat:

Malemolência – Céu

Veio até mim

Quem deixou me olhar assim?

Não pediu minha permissão

Não pude evitar, tirou meu ar

Fiquei sem chão

Menino bonito, menino bonito, ai

Ai, menino bonito menino bonito, ai

Menino bonito, menino bonito, ai

Ai, menino bonito menino bonito, ai

É tudo o que eu posso lhe adiantar

O que é um beijo se eu posso ter o teu olhar?

Cai na dança, cai

Vem pra roda da malemolência

Menino bonito, menino bonito, ai

Ai, menino bonito menino bonito, ai

Menino bonito, menino bonito, ai

Ai, menino bonito menino bonito, ai

É tudo o que eu posso lhe adiantar

O que é um beijo se eu posso ter o teu olhar?

Cai na dança, cai

Vem pra roda da malemolência

Menino bonito, menino bonito, ai

Ai, menino bonito menino bonito, ai

O importante aqui é fazer com que todos entendam que não estou valorizando a preguiça, a vagabundagem como meio de vida, mas como permissão para ser feliz nas horas vagas, a liberdade de ousar sem vulgarizar, de reduzir o ritmo sem ser criticado e de não tratar sensualidade como libertinagem.

O ser humano precisa desacelerar, senão vai perder um de seus maiores tesouros: o TEMPO.

Quantos de vocês se permitem desacelerar?

Quem já tentou deixar o corpo se mexer numa música deliciosamente doce, sem se travar, sem se punir ou se criticar?

Quantos se deixaram largar na areia do mar, sem pensar em nada?

Quem já olhou para vida com malemolência sem se punir?

Eu já fiz tudo isso e posso garantir, vale a pena!