Meu medo era do palhaço?
Eu acho que sou medroso mesmo, coisa de nascença…
Quando criança, eu tinha medo de palhaço, eu não gostava de ir ao circo por causa do palhaço.
Não me pergunte por quê.
Aquela figura me deixava mal.
Eu não tinha medo de altura, de aventuras, de brigas, mas não me fizesse ficar perto de palhaço e do trem fantasma!
Um dia, descobri que meus heróis da TV eram palhaços, O Gordo e o Magro, Três Patetas e Jerry Lewis.
Você já viu algum deles?
Devia ver, caramba como eles faziam tantas acrobacias, tão rápidas sem tecnologia?
Na realidade, minha história talvez não seja de medo do palhaço, mas da vida, do momento, daquilo que se esconde…
Minha história começa no dia que vi Chaplin pela primeira vez.
Me disseram que era um palhaço do cinema mudo!
Ali compreendi a dimensão da arte de interpretar.
Brincando os “palhaços” me faziam chorar, rir, ficar com raiva, debater, questionar, enfim entender o mundo.
O cinema mudo do início do século vinte é a verdadeira escola para o ator e é também uma escola de vida, pois eles não precisam falar para nos contar uma história e nos emocionar.
Hoje vou mostrar fotos de uma palhaça muito especial, que descobri no interior de Sampa, a Xexê.
Ela ainda não tem voz na internet. Só imagem!
Mas ela consegue representar bem demais!
Consigo sentir cada sentimento junto com ela.
Braveza, indignação, carinho, meiguice, dúvida, “metidismo”, tédio, sono, susto, medo, arrogância, tristeza, simpatia, risada, dúvida, enfim, sua imagem fala:
Como pode, me libertei, não tenho mais medo de palhaço!
Parei esses dias para pensar…
Quando foi que o medo passou?
Não foi hoje, nem ontem…
Faz muito tempo.
Descobri que o medo não era do personagem, mas da máscara, da maquiagem, do que podia estar escondido.
Eu tinha medo do que o outro escondia!
Eu tinha medo do que também eu escondia?
Meu medo era que todos pudessem entender que eu era muito diferente…
O palhaço era um homem atrás daquela “máscara”…
Então eu era um pouco palhaço, afinal demorou muito para me sentir livre e mostrar meu rosto verdadeiro.
Ser bom pode ser confundido com ser bobo.
Ser honesto pode ser entendido como imaturo.
Ser amigo pode ser entendido como usável.
Ser carinhoso ou delicado pode ser entendido como fragilidade excessiva.
Muitos de nós deixamos de ser um pouco doces, carinhosos, respeitadores, corretos para não ser mal vistos!
Você consegue entender como é ridículo isso!
Tudo que é diferente precisa ser mascarado, maquiado e escondido.
Chaplim me mostrou que ninguém pode ser feliz se escondendo atrás de uma máscara.
Um palhaço me ensinou a me olhar no espelho e gostar do que estava vendo!
Faz tempo que perdi o medo dos palhaços.
Faz tempo que deixei de me esconder.
Agora eu posso rir do palhaço e até rir de mim mesmo, por ter tido medo um dia.
Hoje vejo nos olhos do palhaço a ternura que tenho no meu olhar.
Gosto disso!
Agradeço a super parceira do Krono/Comud, Palhaça Xexê, personagem da atriz Edilaine, retratada nas fotos!