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Alexandre Américo e o Giradança

Faz algum tempo, Alexandre, idealizador da Conferência do Artesanato indígena e quilombola e Feira de artesanato N/NE – Povos indígenas e Comunidades quilombolas, me falou do trabalho de três profissionais da dança no RN, entrei em contato com os três, que foram muito amigáveis e, marcamos um encontro presencial. É a partir desse contexto que começo esse artigo sobre: Alexandre Américo.

Nesse primeiro contato por telefone pedi a Alexandre suas redes sociais e seu portfólio, buscava assim me ambientar e entender esse artista.

Alexandre é um artista ímpar, basta seguir seu insta para compreender que ele veio ao mundo para levar arte a todos, seu corpo se movimenta com uma leveza que chega às raias do sublime. 

Traz consigo a propriedade da fala pelo movimento, algo que apenas grandes bailarinos possuem. O que quero dizer com isso, seu corpo em movimento se expressa com tamanha clareza que a compreensão de seus espetáculos é simples. 

Acredito que fica claro que entrevistá-lo seria fácil, afinal eu virei fã, somente tendo acesso a seu insta.

Mas antes de mostrar suas respostas para as poucas perguntas que fiz, vou trazer para vocês um pouco mais sobre ele:

Descrição

Descrição no seu insta:

“Artista e Pesquisador da dança, em estado de ruptura inestancável,

Diretor do Grupo Giradança”

Um artista que se dedica à leitura como base de seus estudos e projetos, uma pessoa completamente ligada aos figurinos, às cores, às cenas e a um trabalho de imagem impecável. 

“A leitura faz parte de meu exercício enquanto dançarino.

Leio compulsivamente, na busca por ecos de vozes que possam ressoar na carne que sou no mundo.

Leio, e com isso invento a mim e o mundo”.

Seus trabalhos são fotografados e filmados com muita ousadia e qualidade, desde já registro um agradecimento a @janfotografo pela qualidade das fotos publicadas no insta e aqui reproduzidas.

Uma outra publicação complementa essa fase de descrição do artista:

“As experiências estéticas perpassam toda a vida, não esqueçamos!

Cozinhamos, cantamos, professoramos, sentamos em calçadas com sapos, vestimos roupas, acessórios, nos desnudamos, comemos, bebemos, etc.

Sim, tenho sentido que isto é viver esteticamente.”

Giradança

Tive o prazer de ficar aguardando a chegada de Alexandre vendo o ensaio do Giradança, foi uma experiência única, pois apesar dos meus mais de 50 anos e mais de 100 quilos sempre sonhei dançar, aquele grupo me fez dançar na cadeira, eu senti meu corpo dançando por dentro, faltou pouco para eu pedir para participar!

O envolvimento era total, aqueles corpos fluíam, a responsável dava a eles a liberdade genuína para as próprias criações. Não existiam preocupações com gênero, forma, cor, não existiam regras, eram corpos em puro movimento de descoberta. Em especial agradeço a Ana Viera (@anavieiraartista) que conduzia o ensaio e aos bailarinos incríveis que estavam presentes.

Lendo uma outra publicação do Alexandre entendi o que eu tinha vivido:

“Dançarinos desenvolvem discernimento ao sentir o corpo”. Steve Paxton

Aqui reinventamos, a partir de uma prática coletiva, nossa ideia própria do que pode ser esse devir improvisação no aqui e agora.

Gestamos um lugar-comum, profundo, pequeno e igualmente bonito…

Neste último fim de semana (28 e 29.05), na @casaverdecultural, aconteceu o encontro Corpos e Graus de Liberdade – táticas de improvisação.

Aqui reinventamos, a partir de uma prática coletiva, uma ideia própria do que pode ser esse devir improvisação no aqui e agora.

Gestamos um lugar-comum, profundo, pequeno e igualmente bonito”.

“Encontrei, na @casaverdecultural , a chance de testar minhas hipóteses, enquanto artista da dança que precisa improvisar para seguir dançando, desde a descoberta da Epilepsia Mioclônica Juvenil (sim, sou um dançarino epilético).

Posto aqui alguns momentos desse profundo mergulho e meu sincero agradecimento às trinta pessoas que estiveram gestando esta comunidade em dança, comigo.

Que nossos corpos não se esqueçam de alargar as gruas da liberdade para seguirem dançando, apesar e/ou com a pressão esmagadora dos (bio/necro) poderes que forjam nossa sociedade contemporânea!”

Mas eu quero mostrar um pouco do que os meus olhos viram e que me encantaram ao vivo e, que me fizeram ficar apaixonado pelas ideias e pela forma de ver o mundo, de Alexandre. 

Ele não vê limitações, vê oportunidades, 

Não vê diferenças, vê possibilidades, 

Não traz consigo os limites impostos pela sociedade e sim a liberdade de dançar, que todo corpo possui. 

Todos nós podemos fazer tudo, só que de formas diferentes!

Frases e redes sociais

Acompanhar as redes sociais desse artista me inspiraram muito e tenho certeza que ele também pode te inspirar:

“Gozar da alegria de ser o corpo que se é no mundo, dançando todas as mudanças.”

“Dançar no escuro e exercer o poder imaginativo de nossos corpos.”

“Pensar a dança em suas qualidades e características requer dançar constantemente. 

Parece bobagem, mas se não fizermos o esforço de estarmos na dança… ela escapará de nós, como qualquer outro dado mundano.”

“Para além de amontoados alucinados de passos e movimentos incessantes, de ruídos infindáveis e luzes estonteantes. 

O corpo em improvisação precisa, bem como tudo o que existe, pausar, silenciar, respirar e morrer para dar espaço ao novo, às coisas que esgueiram-se na sombra da realidade visível tentando ganhar carne. 

Parar é um ato político-estético e nós dançaremos isso.”.

O site

Veja detalhadamente todo seu trabalho em seu site:

Dança Contemporânea | Alexandre Américo (alexandreamerico.com)

Trabalhos como Goldfish, Exit, Bípede Sem Pelo, Cinzas ao solo, Bando, Myo Clonus, nesse site podem ser conhecidos.

A Entrevista

Vou adiantar alguns pontos da entrevista, mas em breve você vai poder ver ela todinha num minidoc que vamos lançar:

Alexandre apresentou o grupo Giradança, um grupo, um “bando” que se juntou faz 17 anos, se instalou num galpão na periferia de Natal, na Ribeira, com muitas dificuldades para se manter, pois não possuem um apoio constante, vivem dos espetáculos, dos festivais e da concorrência em editais.

Alexandre, diz:

“Hoje nós, enquanto grupo de pessoas com e sem deficiência, não estamos trabalhando pela inclusão e sim para a não existência de diferença entre seres humanos. Um grupo onde se respeita a diversidade, a pluralidade e a perfeição da individualidade de cada ser humano” 

Eu, Cosmo, como autor desse texto gostaria de ressaltar que essa posição é muito verdadeira, pois estive num ensaio e simplesmente não via nenhuma diferença entre os participantes, tamanho o entrosamento e o respeito que vi entre os membros.

Alexandre deixa claro que, como coreógrafo se sente livre para tratar de qualquer tema, com seu grupo. 

Existe uma busca incessante pelo respeito as diferenças e pelas oportunidades, e diz:

“Vamos abolir a ideia do “eu” como indivíduo sozinho no mundo!”

Tanto Alexandre, como o Giradança, trabalham muito bem a cooperação, pois mesmo quando ele faz espetáculo solo, são inúmeros profissionais envolvidos.

Alexandre no minidoc vai entrar em detalhes sobre a importância das diferenças em tudo, não existe um ser homogêneo e padronizado e o mundo precisa dessas diferenças para ser mundo. 

“Na dança tradicional, nós anulamos nossos traços pessoais em função de um padrão, perdendo muito de nossa diversidade humana”, diz Alexandre. Por isso Alexandre se posiciona contra as danças hegemônicas.

Não acredita que no mundo contemporâneo, você ainda tenha um padrão de bailarina branca, longilínea, magra, hetero para fazer ballet.

Diz, ele: “A diferença entre os seres humanos é tão real e necessária que não devia sequer ser um questionamento.

Mas como ainda não chegamos nesse patamar, vamos fazer de nossos microativismos, a base da mudança para atingir o macro. 

Muitas vezes mudamos o mundo através dos flancos e não de um embate frontal. Evitando a resistência do outro”

Agora que estou chegando ao fim desse meu artigo, não pense que abusei nas citações do artista, pois na realidade sou apenas um veículo que busca levar a todos um pouco de um artista que me inspirou a sonhar, a sair da minha zona de conforto e a desafiar minhas limitações.

Obrigado Alexandre!

Sigam o Insta de Alexandre Américo:

Alexandre Américo (@alexandreamericoo) • Fotos e vídeos do Instagram

Na Conferência do Artesanato indígena e quilombola e Feira de artesanato N/NE – Povos indígenas e Comunidades quilombolas teremos a apresentação de Bípede Sem Pelo:

“O Bípede perdeu os pelos, o cérebro, a razão. Ele gira e na gira faz do mundo a carne de seu corpo”.

Esta peça torce a ideia do animal humano, o Bípede Sem Pelo, e revela, assim, feito um corpo-que-dança-em-transe-que-dança-corpo, um evento estético que nos põe em continuidade com as coisas mundanas, em giros, saltos cruzamentos e amarrações, devolvendo-nos um saber próprio das manifestações culturais da terra.

Ficha Técnica:

  • Dança, Direção e Coreografia: Alexandre Américo 
  • Co-direção e Desenho de Luz: Laura Figueiredo 
  • Interlocução Coreográfica: Elisabete Finger 
  • Cenografia e Assistência de Direção: Jô Bonfim 
  • Figurino, Maquiagem e Assistência de Direção: Ana Vieira 
  • Veste: Andaluz 
  • Trilha Sonora e Sonoplastia: Toni Gregório 
  • Vozes: Ionara Marques e Rodrigo Lacaz 
  • Textos (voz off): Alexandre Américo 
  • Concepção de Design Cênico: Vinicius Dantas 
  • Visagismo: Marcone Soares
  • Fotografia processual: Brunno Martins 
  • Fotografia divulgação: Jan
  • Design Gráfico: Yan Soares 
  • Produção: Celso Filho (Listo Produções)
  • Assessoria de Imprensa: Rosa Moura 
  • Apoio: Museu Câmara Cascudo (UFRN), Casa Verde Espaço 
  • Artístico Cultural (RN).
  • Classificação indicativa: +18 (nudez).
  • O Bípede Sem Pelo foi um processo de criação realizado através da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.