
Morrer para viver
A maior festa do cristianismo encontra suas raízes na Páscoa dos judeus, um evento central da história e da fé de Israel, que celebra o Êxodo (em hebraico Pesach= saída/passagem) da escravidão do Egito para a liberdade.
Essa festa judaica foi incorporada pelas religiões cristãs, mas com uma mudança importante e novo significado, a partir da morte e ressurreição de Jesus.
A Páscoa para Jesus Cristo foi a passagem da morte através da cruz para a vida na glória pela ressurreição.
Então, para os seguidores de Jesus, a Páscoa passou a ser a comemoração da passagem da morte do pecado para a vida nova com Cristo, junto com Cristo Ressuscitado – esse é o cerne da fé cristã!
Ressurreição, indemonstrável e impensável
Historicamente não se põe em dúvida que Jesus tenha morrido, e morrido numa cruz. Já o evento da ressurreição não é demonstrável, embora seja fartamente atestado pelos discípulos de Jesus, que o viram vivo após sua morte.
Também, esse fato é um acontecimento impensável na história, pois ressurreição é voltar à vida e, de ninguém se diz ter voltado à vida após a morte, exceto Jesus.
Além disso, o contexto, no qual Jesus vivia, não era favorável a essa ideia.
Para os romanos a ressurreição era um absurdo e, os judeus eram divididos sobre o assunto; os Fariseus afirmavam a possibilidade, enquanto os do partido dos Saduceus se opunham à ideia.
Assim, os inimigos de Jesus, quando o ouviam dizer que a morte não teria poder sobre ele, procuram silenciá-lo ou mesmo eliminá-lo, e, de fato, depois o condenaram à morte de cruz, considerando blasfêmia, a sua posição.
Após a sepultura do corpo de Jesus, algumas mulheres, que foram visitar o túmulo, o encontraram vazio. Nem elas, nem os discípulos, pensavam que ele havia “ressuscitado” (Jo 20: 6).
Mas se depararam, diante de si, com Jesus vivo, o reconhecem como o conheceram: “Ele realmente ressuscitou!” (Lucas 24:34).
A ressurreição não é uma invenção das mulheres ou uma projeção da consciência dos discípulos, muito menos um engano da parte deles para fazer parecer que Jesus tenha voltado à vida.
Ao que tudo indica, Jesus também não reencarnara em outro elemento da natureza, era ele mesmo, aquele mesmo que os discípulos conheceram, acompanharam pela Palestina, ouviram ensinar e viram aliviar as misérias dos que vinham a ele.
Apareceu em seu corpo de antes, marcado pelos sinais da morte (mãos e lado), mas modificado e glorioso como, de maneira variada e unânime, dizem os Evangelhos (Mt 28; Mc 16; Lc 24; Jo 20-21). Jesus não apenas apareceu redivivo, mas escapara do poder da morte -‘a morte não tem mais poder sobre ele’ (Rom 6, 9).
Mesmo ignorando os limites de tempo e espaço (entrando na casa onde estavam de portas trancadas, caminhando na praia, no jardim etc.), Jesus era reconhecível em uma humanidade transfigurada, o que causou certa dificuldade, mas os discípulos, diante de uma evidência de que Jesus era realmente Filho de Deus, como dizia, creram nele!
A ressurreição não é representável, mas vital e crível
Imaginar a ressurreição, supõe uma reviravolta nas leis da natureza e escapa da nossa percepção, pois se trata de um evento transcendente e de fé.

Aliás, acreditar em Cristo ressuscitado, não é apenas uma questão de fé, mas uma questão de vida e de esperança, pois sua ressurreição é a promessa de que nós também seremos ressuscitados (1Coríntios 15, 20-28).
Jesus, ao ser reconhecível em uma humanidade transfigurada, possibilitou aos discípulos acreditarem nele, e saírem sem medo a pregar ao mundo todo e às gerações futuras, que Cristo ‘Ressuscitou realmente!’
E não só pela palavra, mas também na disposição dos apóstolos e das primeiras testemunhas oculares da Ressurreição, em enfrentarem o risco de vida e o derramamento de sangue por ele.
É por isso que a ressurreição é o cerne da fé cristã, inclusive a ponto de afirmarem que «Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé»(1 Cor 15,14).

O evento da fé cristã representa uma revolução na história da humanidade, vem até chamada de “Boa Noticia” (conforme o significado da palavra grega “Evangelho”) que os discípulos testemunham com seus ensinamentos, escritos e sobretudo, com a sua vida doada até a morte.
“FELIZ PÁSCOA,
CRISTO VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU!”
Um anúncio prodigioso, feliz, da vida que vence a morte, é feito solenemente nas igrejas na noite da Páscoa todos os anos, pretendendo nos revelar sobre o nosso destino e orientar nossas consciências individuais a um verdadeiro e novo conceito da existência humana.
A festa solene da Páscoa faz referência à nossa participação no seu mistério de morte e ressurreição de Jesus, Se Cristo ressuscitou, os que crerem nele também com ele ressuscitação. Por isso o convite do cristianismo, nessa época, é de ‘fazermos Páscoa’, isto é, morrer ao pecado que embrutece e abraçar a beleza da vida que se renova, tornar jovem o que é velho, fazer novas todas as coisas, se libertar de tudo o que nos traz infelicidade e atrasa a vida e, na certeza de que o sofrimento e a morte não têm a última palavra sobre a nossa vida.
O desejo de ‘Feliz Páscoa”, que na Igreja vale por cinquenta dias e é renovado a cada domingo (“Páscoa Semanal dos cristãos”), não deve ser calado, nem mesmo nesse momento histórico turvo e incerto da Pandemia, que limita nossas manifestações presenciais em ambiente comunitário, pois os cristãos continuam acreditando que todos nós, mortos e sepultados com Cristo, com Ele ressuscitaremos para uma vida nova que produz frutos de bondade, solidariedade, compaixão, amor união e paz.
Assim, o desejo verdadeiro de “Feliz Páscoa”
é, também, anúncio de alegria e de esperança,
que promete vida plena e comunhão
com Deus para todos nós.
