Acredito estarmos perto de uma realidade em que as plataformas de mídia social serão habitadas quase exclusivamente por influenciadores.
Mas o que acontecerá quando não houver mais ninguém para influenciar?
Pense comigo:
Um influenciador é seguido por milhares de influenciadores menores, que, por sua vez, são seguidos por centenas de milhares de micro influenciadores. Esse ciclo vicioso cria um cenário onde a influência perde seu sentido original.
A interação ideal nas redes sociais está em risco
Parece loucura, mas é verdade! O objetivo de influenciar sempre foi levar uma narrativa, opinião ou produto a um grande grupo de pessoas.
No entanto, o paradoxo de ser um influenciador é que, quanto maior seu alcance, menos você é influenciado por outros.
O resultado? A maioria dos seus seguidores já não se importa tanto com o que você diz. Eles te seguem apenas para capturar um pouco do seu alcance para si mesmos.
A realidade das redes sociais hoje
Os seguidores comentam em seus vídeos ou posts, com o objetivo de atrair cliques para seus próprios perfis.
A rede social perde sua função, e o envolvimento real, dá lugar a uma busca incessante por visibilidade.
O lugar mais sombrio da internet polonesa
Em 2006, uma startup polonesa foi criada, e um jornalista a apelidou de “buraco negro da Internet”, na Polônia.
Curiosamente, isso parecia prever o que aconteceria quase 20 anos depois. A ideia era simples: você criava uma “parede” onde outras pessoas podiam postar notas curtas e adesivos. Era algo similar ao Twitter, lançado alguns meses depois, onde as notas adesivas também tinham um limite de caracteres.
A plataforma rapidamente se tornou viral. No auge, o site contava com 100.000 usuários ativos diariamente, apenas na Polônia. Nunca foi lançada uma versão em inglês, então o potencial global permaneceu desconhecido.
Mas havia um problema. A startup involuntariamente criou um concurso de popularidade entre os usuários. As mensagens postadas não eram conversas; eram unilaterais. Alguém poderia deixar uma nova nota na sua parede, e a única maneira de responder seria colando outra nota em resposta.
O tipo de comentário mais comum?
Algo como: “Oi! Não te conheço, mas aposto que você é incrível!
Venha até minha parede e me escreva algo legal, por favor!”
Isso era o equivalente, em 2006-2007, ao que hoje chamamos de mendigar por engajamento.
Estima-se que até 200.000 comentários desse tipo eram adicionados diariamente, representando mais de 70% de todas as interações.
A mesma história se repete agora
As mídias sociais tornaram-se um campo de batalha pelo engajamento e pela tentativa de “hackear o algoritmo”.
A busca pela atenção supera a busca pelo mérito. Em 2024, a capacidade média de atenção dos humanos, provavelmente, é menor que a de um peixinho dourado, com menos de 8 segundos. E todos querem sua atenção. Influenciadores, influenciadores menores, micro influenciadores – todos têm um único objetivo: conquistar mais seguidores e alcance.
O jogo do engajamento
Por isso, influenciadores de níveis semelhantes frequentemente “deslizam para o DM” de outros influenciadores, tentando estabelecer conexões.
Embora algumas dessas interações sejam genuínas, muitas (arrisco dizer a grande maioria) são baseadas na regra da reciprocidade.
A ideia é simples: se eu for legal com você no DM, há uma chance maior de você gostar ou compartilhar meu conteúdo.
Essa dinâmica faz parte tanto da formação de conexões humanas quanto do jogo do algoritmo. No entanto, o objetivo principal de todos nas redes sociais é ter mais seguidores do que você. Mais alcance. E esses DMs “amigáveis” raramente são verdadeiros amigos.
E onde fica a verdadeira “rede social” nisso tudo?
Uma carreira em declínio
Hoje, todos querem ser influenciadores. Uma pesquisa da Harris Poll de 2019, divulgada pela Bloomberg, revelou que 30% das crianças americanas querem ser YouTubers. Enquanto isso, na China, 60% das crianças sonham em ser astronautas, e menos de 20% desejam a fama nas redes sociais.
Construindo uma marca pessoal
Neste mundo cada vez mais barulhento, quem grita mais alto ganha uma pequena vantagem. Todos estão freneticamente focados em construir uma marca pessoal, porque as plataformas de mídia social decidiram que essa é a única maneira de permanecer relevante.
Ser bom no que você faz já não é suficiente. Você precisa ser uma marca, ser conhecido.
Essa corrida pelos números muitas vezes supera a busca pela qualidade, e é por isso que vemos postagens cada vez mais vazias de conteúdo real.
O sistema está quebrado (estou falando da rede social, claro! Será?)
Estamos presos em uma roda de hamster, lutando por atenção, na esperança de que, um dia, alguém como Elon Musk, retuite nosso meme e nos faça ganhar 10.000 seguidores.
Já não temos mais nada a dizer, a menos que seja uma trollagem para causar mais polêmica.
Para assegurar que abrangemos todas as bases, as pessoas agora começam suas postagens com “Opinião impopular:” – mesmo quando a maioria concorda com o que está sendo dito.
Escrever bem já não é suficiente; é preciso se destacar como “o melhor”! Não é por acaso que recorremos ao ChatGPT, pedindo que atue como o melhor do mundo.
A superficialidade das mídias sociais
Todos estão desesperadamente “jogando o algoritmo” para aumentar um pouco seu próprio pedaço do bolo.
Mas muitos não percebem o quão insignificantes esses números realmente são. Anos atrás, muitas contas “populares” no Instagram assumiam que os primeiros 100 mil seguidores precisavam ser comprados. O resultado? Contas com 250 mil seguidores que recebem apenas 90 curtidas por postagem.
A realidade é que as pessoas não se importam
Muitos de seus seguidores (geralmente) não são seus amigos.
Eles simplesmente querem usar você como uma escada para seu próprio sucesso. Não estão interessados no que você diz ou representa; é um motivo puramente egoísta.
Se um post seu tem sucesso, eles tentarão imitá-lo na próxima vez. Se “falha” no teste de engajamento, eles fazem uma anotação mental. O que não percebem é que seus próprios seguidores fazem o mesmo.
O formato longo pode ser a salvação?
O influenciador moderno está fortemente focado em conteúdo de formato curto. Vídeos verticais rápidos de 15 segundos com legendas coloridas e transições frenéticas a cada 2-3 segundos para manter a atenção.
Esse estilo de edição, popularizado por Mr. Beast, tornou-se o modelo para o cultivo de engajamento em todas as plataformas de mídia social, não apenas no YouTube.
Mas, a cada novo nível de influenciador, menos tempo, esforço e mérito são dedicados ao conteúdo. Eles apenas copiam as táticas de edição de outros influenciadores bem-sucedidos.
Grande parte do público online está preso nesse ciclo ultrarrápido de batalhas por engajamento.
É alarmante como esse ciclo se repete, como ondas que seguem o fluxo da maré. Nada se cria, tudo se replica. Nos transformamos em meras máquinas copiadoras.
Mas ainda há esperança
Como acontece com todas as tendências, há um grupo de pessoas que se cansa rapidamente. Algumas realmente desejam obter valor pelo que fazem online. Outras fazem isso para mostrar que são melhores do que aquelas com capacidade de atenção de 4 segundos.
Seja qual for o motivo, o formato longo, com uma mensagem real, está voltando lentamente. Bem-vindo ser finalmente, humano!
Sua marca pessoal não deveria ser apenas um jogo. Deveria mostrar a qualidade do que você faz. E isso funciona… às vezes. Isso precisa mudar, ou continuaremos presos nesse ciclo maluco. Mas estamos progredindo, embora lentamente.
Ainda não chegamos lá, mas pela experiência de muitos, um único seguidor que lê um artigo de 1.000 palavras na íntegra é muito mais valioso do que 1.000 seguidores conquistados por um vídeo de 15 segundos.
Recentemente, um comentário em uma longa postagem com um vídeo de uma ferramenta de IA anexado resumiu bem essa ideia:
“Eu prefiro pessoas que leem tudo isso.”
Assino embaixo do que ele falou e presto homenagens. Este comentário reflete o desejo de uma mudança. Não se trata de cultivo de engajamento; é uma curiosidade genuína sobre o que os outros pensam.
Você notou essa mudança em que todos estão mais interessados em engajamento do que em compartilhar ideias?
Será que estamos exagerando ou este artigo é apenas uma forma diferente de buscar engajamento?